Texto - "O Infante D. Henrique e a arte de navegar dos portuguezes" Vicente de Almeida de Eça

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Vasta é hoje, senhores, e complicada a ciência do homem do mar. Quem sabe a série de disciplinas que ao presente se exigem aos oficiais de marinha, os longos e acurados estudos de matemáticas e ciências físicas que para elas são preparatórios, mal poderá imaginar a simplicidade e rudeza dos conhecimentos de que dispunham os primeiros navegadores. Procurando cumprir o programa que delineei, vou tentar resumir o muito que a este respeito haveria a dizer.

A história dos diversos passos dados pelos Portugueses na arte de navegar durante o período em que eles primaram na carreira dos mares, pôde, parece-me, dividir-se em três principais capítulos, que marcam outros tantos progressos.

O primeiro mostra a adopção das cartas planas, pondo-se de parte as geográficas. O segundo apresenta a invenção do astrolábio ou o seu aperfeiçoamento, e com ele a determinação da latitude pela altura do sol. O terceiro inclui a descoberta da variação da agulha e as tentativas para por meio da sua determinação achar a longitude. Se a isto acrescentarmos a descoberta do fenômeno dos ventos regulares e das monções, as primeiras investigações feitas sobre as correntes marítimas ou relheiros, como lhes chama D. João de Castro, e ainda sobre outros assuntos, fácil é de ver que todas as maravilhas da física do mar e todos os problemas da navegação foram primordialmente tocados pelos mareantes portugueses. Se lhes faltou a determinação das longitudes pela comparação das horas, prova-se por muitas passagens dos autores que eles não ignoravam a teoria, mas apenas careciam do instrumento que pudesse medir o tempo com a necessária exatidão; e de todos é bem sabido que essa delicadeza de construção só muito modernamente foi atingida nos cronômetros, que aliás são instrumentos sujeitos à influência de diversas circunstâncias perturbadoras.