Um a um sobrepondo os tormentos mais altos,
Da minha própria dor fiz uma Fortaleza,
Que pudesse enfrentar tempestades e assaltos,
Imponente de rude e bárbara grandeza.
Desde então, sem receio, a tudo invulnerável,
Depondo na panóplia o escudo e as armas rotas,
Vivo oculto no meu torreão inexpugnável,
Recompondo em anos combates e derrotas.
Nenhum grito ou rumor atinge essa eminência;
Nenhum desejo vai escalar essas alturas,
Onde, antigas visões, andam como em demência
Do passado a evocar saudades e amarguras.
Contudo, alguma vez, se uma ilusão funesta
Um eco juvenil faz em mim despertar,
Como som matinal de campanário em festa
Que no meu coração vem de longe vibrar,
Então, -- luz sem igual que tudo em torno abrasa --
A Ventura de novo aos olhos meus se ostenta,
- Raio de sol suspenso a tremer numa asa
Que um instante pairou sobranceira á tormenta.
E atrás dessa quimera ou sonho alucinante,
Vou, numa ânsia de gozo, um momento arrastado,
Como o condor lançando o voo fulminante
Á pressa que entreviu do píncaro escarpado.
Mas a luz, que brilhou, logo se esconde e apaga,
E eu regresso trazendo ao meu refúgio, exangue,
Mais uma nova dor, mais uma nova chaga,
Rutilante de vivo e generoso sangue.
E outra vez, dessa altura em tais ruínas erguida,
Sem sobressaltos vejo os meus dias correr,
De saudades velando o entardecer da Vida,
Que o ter-se sido moço é a dor do envelhecer.
Mas oculto no meu solitário reduto,
Ao abrigo de toda a investida ou traição,
Se de fora não vêm tempestades nem lucro,
O meu próprio sofrer enche o meu coração.
E assim, na sua noite o espírito submerso,
Sem que uma estrela nova aos olhos meus desponte,
Vou, com o pensamento em mil voos disperso,
De saudade em saudade alargando o horizonte.
E tudo, mesmo a Dor, nessa amplidão se esfuma,
Como incêndio a esbater-se em longínquo arrebol...
Toda a nuvem, de perto, é um farrapo de bruma,
A distância, parece ouro e púrpura, ao sol!
Sob o contorno ideal que o espelho empresta à imagem,
Projetados ao longe, os tormentos e as dores
Surgem aos olhos meus na ilusão da miragem,
Como ruínas de sonho em que brotaram flores...
Ruínas que uma luz tão serena ilumina
Como se as envolvesse um luar de esquecimento;
E é tão doce a ilusão, que nessa hora divina,
Ajoelho a balbuciar: Morte! espera um momento!...
Da minha própria dor fiz uma Fortaleza,
Que pudesse enfrentar tempestades e assaltos,
Imponente de rude e bárbara grandeza.
Desde então, sem receio, a tudo invulnerável,
Depondo na panóplia o escudo e as armas rotas,
Vivo oculto no meu torreão inexpugnável,
Recompondo em anos combates e derrotas.
Nenhum grito ou rumor atinge essa eminência;
Nenhum desejo vai escalar essas alturas,
Onde, antigas visões, andam como em demência
Do passado a evocar saudades e amarguras.
Contudo, alguma vez, se uma ilusão funesta
Um eco juvenil faz em mim despertar,
Como som matinal de campanário em festa
Que no meu coração vem de longe vibrar,
Então, -- luz sem igual que tudo em torno abrasa --
A Ventura de novo aos olhos meus se ostenta,
- Raio de sol suspenso a tremer numa asa
Que um instante pairou sobranceira á tormenta.
E atrás dessa quimera ou sonho alucinante,
Vou, numa ânsia de gozo, um momento arrastado,
Como o condor lançando o voo fulminante
Á pressa que entreviu do píncaro escarpado.
Mas a luz, que brilhou, logo se esconde e apaga,
E eu regresso trazendo ao meu refúgio, exangue,
Mais uma nova dor, mais uma nova chaga,
Rutilante de vivo e generoso sangue.
E outra vez, dessa altura em tais ruínas erguida,
Sem sobressaltos vejo os meus dias correr,
De saudades velando o entardecer da Vida,
Que o ter-se sido moço é a dor do envelhecer.
Mas oculto no meu solitário reduto,
Ao abrigo de toda a investida ou traição,
Se de fora não vêm tempestades nem lucro,
O meu próprio sofrer enche o meu coração.
E assim, na sua noite o espírito submerso,
Sem que uma estrela nova aos olhos meus desponte,
Vou, com o pensamento em mil voos disperso,
De saudade em saudade alargando o horizonte.
E tudo, mesmo a Dor, nessa amplidão se esfuma,
Como incêndio a esbater-se em longínquo arrebol...
Toda a nuvem, de perto, é um farrapo de bruma,
A distância, parece ouro e púrpura, ao sol!
Sob o contorno ideal que o espelho empresta à imagem,
Projetados ao longe, os tormentos e as dores
Surgem aos olhos meus na ilusão da miragem,
Como ruínas de sonho em que brotaram flores...
Ruínas que uma luz tão serena ilumina
Como se as envolvesse um luar de esquecimento;
E é tão doce a ilusão, que nessa hora divina,
Ajoelho a balbuciar: Morte! espera um momento!...