Texto - "O Cerco de Corintho" Lord Byron

feche e comece a digitar
É meia-noite: a fria lua ostenta
O disco inteiro, e amplo fulgor difunde
A contrastar com a sombra das montanhas;
Tarja d'azul o mar, d'azul se veste
O firmamento, este suspenso oceano,
Todo cravado d'ilhas que refulgem
Lá tão remotas, com ardor tão vivo:
E quem, quem póde attento contemplá-las,
E repassar depois os olhos tristes
No vale dos mortais, sem que apeteça
Voar e unir-se para sempre a ellas?
Dormem as ondas, numa praia e noutra,
Plácidas e cerúleas como os ares;
Só de leve as áreas roça a espuma,
Com murmurinho igual ao de um regato.
Os ventos se recosta sobre as ondas;
E das hastes ao longo quietas pendem,
Em pregas aconchegando -se, as bandeiras,
Que remata arci-fúlgido Crescente.
Nada interrompe esta mudez profunda,
Senão além a voz da sentinella
Reproduzindo a senha, ou lá mais longe
Relincho de corcéis agudo e cérebro,
Ou écos que respondem dos outeiros,
Ou da hoste bravia o rumor vasto,
Que semelhante ao de agitadas folhas
Alongando-se vai de praia a praia,
Ou preces usuaes que á meia-noite
Levanta o Muezzin, rasgando os ares
Co'a lamentosa gargantear lôa,
Qual 'espírito que vaga na planície:
Melódicos acentos, mas prantivos,
Quaes os produz o vento, que, passando,
Encontra as cordas de sonoras harpas,
E extrai descompassadas harmonias,
Que não conhece o menestrel mundano.
Este som se afigura aos sitiados
Grito agoureiro da infalível queda;
Ele fere no ouvido aos sitiadores
Como indício aziago e pavoroso,
Repentina toada indefinível,
Que os corações lhes paralisa agora,
E logo os faz pulsar mui apressados,
Com a vergonha de haver surgido deles
Tão desusada sensação furtiva:
Destarte o sino apregoador da morte
Nos sobressalta de repente ouvido,
Inda que seja em funeral de estranhos.