Texto - "O passeio dos bardos ao Baldeador" Floriano Alves da Costa

feche e comece a digitar
Que se désse um passeio além das plagas
D'esta bela cidade do Janeiro,
Entre si dois amigos decidiram,
Dando d'esta arte distracção mais ampla
Ás tão communs fadigas do trabalho.
Foi então escolhido o amêno sítio
Que de Baldeador lhe dão o nome;
E já de antemão fruindo mil prazeres,
Descreviam na mente os dois amigos,
Os tantos regozijos que se gozam
No belo apreciação do belo campo,
Já contemplando a basta Natureza,
Já gostando real simplicidade,
Que dificil se encontra, ou não existe
Nesta nossa cidade populosa!

Concebido o passeio, concordaram
Que no dia seguinte se embarcasse
Em direcção ao porto do Coqueiro,
De onde então a pé seguir deviam
Té o sítio por eles destinado,
Onde, diante só da Natureza,
Que nesta nossa terra tanto sobra,
Resfolegar pudessem os enlevos
Que oferece o risonho panorama
Das montanhas, dos bosques, dos oiteiros,
Onde tanta poesia se reúne,
Onde a alma do Bardo se extasia,
No dôce meditar que o arrebata!...

Gasto o dia anterior a esse dia
Em que tanto pensavam estes jovens,
Ao ponto destinado foram ambos
Afim de ahi a eles se juntarem
Mais dois amigos, que tomaram parte
No belo distrair deste passeio,
Que tão grato prazer anunciava,
N'um folgar tão ridente. Ahi se achavam
Em breve reunidos todos quatro,
Quando em meio era o dia do seu giro:
Almo prazer em todos respirava,
Deu-se a voz da partida, eil-os s embarcam.

Em sujo batel da roça,
De cargas todo tomado,
Entraram os quatro amigos
Qual em pensar mais ousado:
Cada um já assentado
Contemplava o burburinho
Que se fazia sentir
No tão pequeno barquinho.

De vinte quatro pessoas
Já ele tomado estava;
Mulheres, homens e cargas
Tudo mal se acomodava:
Entretanto, a tudo dava
Maior graça, mais acção,
Os ditos que proferia
Do tal barquinho o patrão.

Este, assentado na pôpa,
Tomando do leme conta,
Para seguir a viagem
Bem galhardo já se apronta:
A proa do barco aponta
Para o sítio desejado;
Soltam-se as velas e vê-se
Já o ferro levantando...

O vento a favor
Que então se agitava,
No barco empregava
Toda actividade,
Que em breve a cidade
Nos fez tão distante,
Que olhar penetrante
Não mais descobria.

Na vasta bahia
Então nós achámos,
E a vista esperamos
Em seus arredores:
Os belos verdores
Das ilhas formosas,
Serras alterosas
Fomos contemplando.

Fomos desfrutando
Todo o panorama,
Que assaz se derrama
Nesta bela terra,
Onde se encerra
Tanta poesia,
De noite e de dia,
Em todo o lugar...

Nestes belos contemplar
Todos engolfados iam,
Que nem ao menos sentiam
Do sol os ardentes raios.

Tal era o contentamento
Que a todos dominava,
Em tudo graça se achava,
Tudo era riso e ventura.

Esquisitos pensamentos
Pelo patrão emitidos,
Feriam mais os sentidos
Da bela reunião.

Pois ninguém mais desejava
Do que nós, se divertir;
Em todos, dôce sorrir
Ineffabile se mostrava.

Entanto o activo vento
Mais e mais se redobrava,
O barco quase voava
Impelido pela força;

Té que tanto foi crescendo
E a tal ponto se elevou,
Que Em breve se rebentou
Uma das duas escrotas.

Aos gritos de - férra a vela -
A risada foi geral,
Fazendo-se mais cabal
O nosso divertimento.

E em taes brincos
Nos englobando,
Fomos passando
Toda a bahia.

Em todos, prazer
Se manifestava,
Em todos reinava
O contentamento,

E em complemento
A doce alegria
De todos se via
No rosto expressar.

De tantos enlevos
Foi o só motor,
O Baldeador
Já tão desejado!

E tudo já tendo
Bem analisado,
Conforme o ensejo
Nos foi permitido,
De - terra - uma voz
Se deu, e nós todos
Do barco da roça
Nós fomos saindo.

Então avistamos,
Mesmo á nossa frente,
Um alto coqueiro
Já envelhecido,
O qual nome deu
Ao porto, que achámos
De curta extensão,
Mais apetecido.

Pequenas casinhas,
Em número breve,
De tosco trabalho,
Sem ordem alguma,
Postadas em fila
Ao longo da praia...
Do Coqueiro o porto
Este é, em summa.