Texto - "Memorias de José Garibaldi" Giuseppe Garibaldi

feche e comece a digitar
O único exercício corporal da minha mocidade, para o qual também não tive mestre, foi a natação. Não me lembro quando, e como aprendi a nadar, mas julgo que sempre o soube, pois desconfio que nasci anfíbio. Assim não obstante o pouco prazer que tenho em me prodigalizar elogios, como sabem todos aqueles que me conhecem, não posso deixar de dizer que, sou um dos melhores nadadores existentes. Sendo conhecida a confiança que tenho em mim é escusado dizer que nunca hesitei em me atirar à água quando era necessário salvar um dos semelhantes.

Entretanto se meu pai não me mandou ensinar todos estes exercícios a culpa não foi sua, mas sim da época calamitosa porque atravessamos. Neste tempos desgraçados o clero era o senhor absoluto do Piemonte, e todos os seus esforços eram tornar os mancebos em frades inúteis e mandriões em lugar de cidadãos aptos para servirem a nossa desgraçada pátria. O amor profundo que me consagrava meu pobre pai, até lhe fazia recear que se eu recebesse alguma instrução, isso me fosse funesto para o futuro.

Rosa Raymundo, minha mãe, era, digo-o com bastante orgulho, o modelo das mulheres. Todo o bom filho deve dizer o mesmo de sua mãe, mas nenhum o dirá com mais justiça do que eu.

Um dos remorsos de toda a minha vida, talvez o maior, foi e será o ter tornado desgraçados os seus últimos dias! Só Deus sabe quanto ela sofreu com a minha vida aventureira, porque só Deus sabe o imenso amor que minha mãe me consagrava. Se em mim existe algum sentimento bom, confesso-o, e com bastante ufania, é a ela a quem o devo. O seu carácter angélico devia forçosamente deixar-me alguns vestígios. Não será a sua piedade pelos desgraçados, á sua compaixão pelos infelizes, que eu devo este amor pela pátria, amor que me mereceu a afeição e simpatia dos meus compatriotas?

Não sou supersticioso, mas devo dizer que nas circunstâncias mais críticas da minha vida, quando o oceano rugindo erguia o meu navio como um pedaço de cortiça, quando as bombas assobiavam a meus ouvidos como o vento da tempestade, quando as bolas caíam em volta de mim como a saraiva, via sempre minha pobre mãe ajoelhada aos pés do SENHOR orando pelo filho das suas entranhas. Se algumas vezes mostrei uma coragem de que muitos se admiraram, é porque estava convencido de que não me sucederia desgraça alguma quando tão santa mulher, quando semelhante anjo orava por mim.