O homem de espírito, assustado com o vácuo imenso, que deixa no coração uma afeição que se perde, só rompe o laço que o prende à causa de dilacerações interiores.
Como bem se disse, sendo preciso um dia para conseguir, é preciso mil para se reconquistar.
Mesmo no momento em que volta a ser livre: quantas vezes um sorriso, um meneio de cabeça, uma maneira de puxar o vestido, ou de inclinar o chapelinho de sol, não o faz recair no seu antigo captiveiro!
De resto, a mulher, a quem ele tiver revelado o segredo do seu coração, ficará sempre para ele como ser aparte. Não a esquece nunca.
Morta, ou separado, nutre por aquela que a perdeu longas saudades. Perseguido pela lembrança que dela conserva, descobre muitas vezes que as outras mulheres por quem se apaixona só têm o mérito de se parecerem com ella. Dá-se ele então a comparações que o esvaíram, que o irritam, que o põe fora de si, exigindo no seu trajar, no seu andar e até no seu falar, alguma cousa que lhe recorde o seu implacável ideal.
E se é ele o abandonado, que de torturas que soffre!
Viver sem ser amado parece-lhe intolerável. Nada pode consolar-o ou distrai-o.
No caso de tornar a ver os sítios que foram testemunhas da sua felicidade, evoca á sua memoria mil circunstâncias perseverantes e cruéis. Alli está a cerca cheirosa, cujos espinhos rasgam o véu da infiel; aqui, o rio que a medrosa só ousava atravessar amparada pela sua mão; além está a alameda, cuja areia fina parece ter ainda o molde de seus ligeiros passos. Contempla na janela as longas e alvas cortinas, no peitoril os arbustos em flor, na relva a mesa, o banco, as cadeiras em que outrora se sentaram.
É possível que ela tenha mudado tão de repente? Pois não foi ainda hontem que de volta de um passeio ao bosque, lhe enxugou o suor da testa, e que se lhe prendia em doce e estranho amplexo?... Hoje, nem mais doçuras, nem mais apertos de mão, nem mais dessas horas ebrias em que todo o passado ficava esquecido! Ele está só, entregue a si mesmo, sem força, sem alvo: é o delírio do desespero.
O tolo está acima dessas misérias. Não o assusta um futuro prenhe de qualquer inquietação afflictive. Sempre acobertado pela bandeira de inconstância, desfaz-se de uma amante sem luta, nem remorso; utiliza uma traição para voar a novas aventuras. Para ele nada há de terrível em uma separação, porque nunca supõe que se possa colocar a vida numa vida alheia, e que fazendo-se um hábito dessa comunidade de existência, faz-se pouco novamente sofrer, quando ela tiver de quebrar-se.
Da mulher, que deixa de amar, ele só conserva o nome, como o veterano conserva o nome de uma batalha para glorificar-se, juntando-o ao número das suas campanhas.
 Como bem se disse, sendo preciso um dia para conseguir, é preciso mil para se reconquistar.
Mesmo no momento em que volta a ser livre: quantas vezes um sorriso, um meneio de cabeça, uma maneira de puxar o vestido, ou de inclinar o chapelinho de sol, não o faz recair no seu antigo captiveiro!
De resto, a mulher, a quem ele tiver revelado o segredo do seu coração, ficará sempre para ele como ser aparte. Não a esquece nunca.
Morta, ou separado, nutre por aquela que a perdeu longas saudades. Perseguido pela lembrança que dela conserva, descobre muitas vezes que as outras mulheres por quem se apaixona só têm o mérito de se parecerem com ella. Dá-se ele então a comparações que o esvaíram, que o irritam, que o põe fora de si, exigindo no seu trajar, no seu andar e até no seu falar, alguma cousa que lhe recorde o seu implacável ideal.
E se é ele o abandonado, que de torturas que soffre!
Viver sem ser amado parece-lhe intolerável. Nada pode consolar-o ou distrai-o.
No caso de tornar a ver os sítios que foram testemunhas da sua felicidade, evoca á sua memoria mil circunstâncias perseverantes e cruéis. Alli está a cerca cheirosa, cujos espinhos rasgam o véu da infiel; aqui, o rio que a medrosa só ousava atravessar amparada pela sua mão; além está a alameda, cuja areia fina parece ter ainda o molde de seus ligeiros passos. Contempla na janela as longas e alvas cortinas, no peitoril os arbustos em flor, na relva a mesa, o banco, as cadeiras em que outrora se sentaram.
É possível que ela tenha mudado tão de repente? Pois não foi ainda hontem que de volta de um passeio ao bosque, lhe enxugou o suor da testa, e que se lhe prendia em doce e estranho amplexo?... Hoje, nem mais doçuras, nem mais apertos de mão, nem mais dessas horas ebrias em que todo o passado ficava esquecido! Ele está só, entregue a si mesmo, sem força, sem alvo: é o delírio do desespero.
O tolo está acima dessas misérias. Não o assusta um futuro prenhe de qualquer inquietação afflictive. Sempre acobertado pela bandeira de inconstância, desfaz-se de uma amante sem luta, nem remorso; utiliza uma traição para voar a novas aventuras. Para ele nada há de terrível em uma separação, porque nunca supõe que se possa colocar a vida numa vida alheia, e que fazendo-se um hábito dessa comunidade de existência, faz-se pouco novamente sofrer, quando ela tiver de quebrar-se.
Da mulher, que deixa de amar, ele só conserva o nome, como o veterano conserva o nome de uma batalha para glorificar-se, juntando-o ao número das suas campanhas.