Subitamente, naquele vasto horizonte, até então puro na sua luz horrenda, dos castelos de nuvens cerradas e negras começaram a levantar-se, um da banda da Europa, outro do lado d'Africa.
Os bulcões englobados corriam um para o outro e multiplicavam-se, vomitando novos castelos de nuvens, que se difundiam, flutuando enoveladas com formas incertas.
E aquelas montanhas vaporosas e negras rasgaram-se d'alto a baixo em fendas semelhantes a algares profundos, e os seus fragmentos informes e cambiantes vacilavam trêmulos em ascensão diagonal para as alturas do céu.
Ao aproximarem-se, os dous exércitos de nuvens prolongaram-se em frente um do outro e toparam em cheio. Era uma verdadeira batalha.
Como duas vagas encontradas, no meio de grande procella, que, tombando uma sobre a outra, se quebram em caixões que espadana lençóis de escuma para ambos os lados, antes que a menos violenta se incorpore na mais possante, assim aquelas nuvens tenebrosas se despedaçaram, derramando-se pela imensidão da abóbada afogueada.
Então, pareceu-me ouvir muito ao longe um choro sentido misturado com gritos agudos, como os do que morrem violentamente, e um tinir de ferro, como o de milhares de espadas, batendo nas cimeiras de milhares de elmos.
Mas este ruído foi-se alongando e cessou: os bulcões levantados da banda d'Africa tinham embebido em si os que subiam da Europa, e desciam rapidamente para o lado dos campos góticos.
Depois, senti lá embaixo, na raiz da montanha, um rir diabólico. Olhei: o Calpe esboroava-se ao redor de mim, e os rochedos sobre que eu estava assentado vacilavam nos seus fundamentos.
Despertei. Tinha os cabelos hirtos, e o suor frio manava-me da fronte aquecida por febre ardente.
Senhor, Senhor! foste tu que deste a ler a minha alma a última página do livro eterno em que a providencia escreveu a historia do imperio godo?
Contam-se coisas incríveis desses povos que assolam a África, chamados os árabes, e que, em nome de uma crença nova, pretendem apagar na terra os vestígios da cruz. Quem sabe se aos árabes foi confiado o castigo desta nação corrupta?
Já as nossas praias foram visitadas por eles, e para os repelir cumpriu que desembainhasse a espada o illustre Theodemiro, o ultimo guerreiro, talvez, que mereça o nome de neto dos godos.
Terra em que nasci, se o teu dia de morrer é chegado, eu morrerei contigo. Na procella que se alevanta d'Africa deixarei submergir o meu débil esquife, sem que a esses gemidos que ouvi se vão ajustar os meus. Que m'importa a vida ou a morte, se o padecer é eterno?
Os bulcões englobados corriam um para o outro e multiplicavam-se, vomitando novos castelos de nuvens, que se difundiam, flutuando enoveladas com formas incertas.
E aquelas montanhas vaporosas e negras rasgaram-se d'alto a baixo em fendas semelhantes a algares profundos, e os seus fragmentos informes e cambiantes vacilavam trêmulos em ascensão diagonal para as alturas do céu.
Ao aproximarem-se, os dous exércitos de nuvens prolongaram-se em frente um do outro e toparam em cheio. Era uma verdadeira batalha.
Como duas vagas encontradas, no meio de grande procella, que, tombando uma sobre a outra, se quebram em caixões que espadana lençóis de escuma para ambos os lados, antes que a menos violenta se incorpore na mais possante, assim aquelas nuvens tenebrosas se despedaçaram, derramando-se pela imensidão da abóbada afogueada.
Então, pareceu-me ouvir muito ao longe um choro sentido misturado com gritos agudos, como os do que morrem violentamente, e um tinir de ferro, como o de milhares de espadas, batendo nas cimeiras de milhares de elmos.
Mas este ruído foi-se alongando e cessou: os bulcões levantados da banda d'Africa tinham embebido em si os que subiam da Europa, e desciam rapidamente para o lado dos campos góticos.
Depois, senti lá embaixo, na raiz da montanha, um rir diabólico. Olhei: o Calpe esboroava-se ao redor de mim, e os rochedos sobre que eu estava assentado vacilavam nos seus fundamentos.
Despertei. Tinha os cabelos hirtos, e o suor frio manava-me da fronte aquecida por febre ardente.
Senhor, Senhor! foste tu que deste a ler a minha alma a última página do livro eterno em que a providencia escreveu a historia do imperio godo?
Contam-se coisas incríveis desses povos que assolam a África, chamados os árabes, e que, em nome de uma crença nova, pretendem apagar na terra os vestígios da cruz. Quem sabe se aos árabes foi confiado o castigo desta nação corrupta?
Já as nossas praias foram visitadas por eles, e para os repelir cumpriu que desembainhasse a espada o illustre Theodemiro, o ultimo guerreiro, talvez, que mereça o nome de neto dos godos.
Terra em que nasci, se o teu dia de morrer é chegado, eu morrerei contigo. Na procella que se alevanta d'Africa deixarei submergir o meu débil esquife, sem que a esses gemidos que ouvi se vão ajustar os meus. Que m'importa a vida ou a morte, se o padecer é eterno?