Teve uma casa que vendeu. E que bonita casa! Situada na orla da praia
estendia-se deante d'ella o oceano como um vasto lençol, cujas dobras
phantasticas se encolhiam e se encolhiam, consoante as horas e as marés.
Nessa casa viu a luz Alfredo. Ahi, envolto com o maternal carinho,
aprendera ele a entoar as primeiras trovas da infância; ahi também
suspiroso, como um lago, e cândido, como o céu, aprendera a ser um filho
honrado e um cidadão benemérito.
Mas a infância, esvaecida numa manhã de rosas, deixará após de si o
lucro de um coração e a orfandade de uma família.
A solitária vivenda, circundada de festões e madressilvas, sentira-se
isolada e triste. Na viração da tarde já as flores silvestres não
derramavam, como outrora, uns aromas tão vivos e tão profundamente
salutares e amenos.
Ausentar-se dali a mulher angélica, boa, virtuosa, cujo espírito,
evolado nas asas da saudade, fôra perante Deus rogar pela felicidade de
seu único filho.
E Alfredo chorou e chorou deveras...
Estava, porém, na primavera da vida. Auspiciado pelas brisas da mocidade
demandou a capital, cujo ruído o captava em extremo.
Dirigiu-se para Lisboa e ahi fixou residência.
Para qualquer que o visse seria o seu rosto gentil e levemente
efeminado o mais seguro passa-porte de uma fina e aprimorada educação.
Usava de ordinário fato preto a que dava realce uma esplêndida camélia,
artisticamente colocada na boutonniere.
Elegíaco por condição nada havia que o satisfizesse. Um vácuo imenso
lhe torturava a existência. Filho do tédio e vivendo para o tédio o seu
espírito, agrilhoado por uma nostalgia sem limites, experimentava de
contínuo um mal-estar insuportável, atroz, corrosivo, e porventura uma
doença impossível de definir-se.
A sua compleição delicada, e consumida pelos vinhos, agitava-se
alternadamente entre dois mundos infinitos e contradictorios. Amava e
não amava, queria e não queria, pensava e não pensava.
Alto, magro, nervoso tudo o impressionava com uma fatalidade
irresistível. O mundo era-lhe um phantasma sombrio, chimerico, cuja
sombra ele amaldiçoava, a todas as horas, no café, na rua, no bordel,
na sociedade enfim.
Mulheres havia que sonhavam com o seu bigode louro, a sua cabelleira
phantastica, e os seus sorrisos provocadores, ingênuos e ligeiramente
ironicos.
Ele, porém, detestava as mulheres em espírito, aproveitando-lhes o
corpo e a carne, como um mero passa-tempo social.
Só uma vez amou, e, como Christo, doidamente, loucamente, profundamente.
Então foi ditoso muito ditoso.
estendia-se deante d'ella o oceano como um vasto lençol, cujas dobras
phantasticas se encolhiam e se encolhiam, consoante as horas e as marés.
Nessa casa viu a luz Alfredo. Ahi, envolto com o maternal carinho,
aprendera ele a entoar as primeiras trovas da infância; ahi também
suspiroso, como um lago, e cândido, como o céu, aprendera a ser um filho
honrado e um cidadão benemérito.
Mas a infância, esvaecida numa manhã de rosas, deixará após de si o
lucro de um coração e a orfandade de uma família.
A solitária vivenda, circundada de festões e madressilvas, sentira-se
isolada e triste. Na viração da tarde já as flores silvestres não
derramavam, como outrora, uns aromas tão vivos e tão profundamente
salutares e amenos.
Ausentar-se dali a mulher angélica, boa, virtuosa, cujo espírito,
evolado nas asas da saudade, fôra perante Deus rogar pela felicidade de
seu único filho.
E Alfredo chorou e chorou deveras...
Estava, porém, na primavera da vida. Auspiciado pelas brisas da mocidade
demandou a capital, cujo ruído o captava em extremo.
Dirigiu-se para Lisboa e ahi fixou residência.
Para qualquer que o visse seria o seu rosto gentil e levemente
efeminado o mais seguro passa-porte de uma fina e aprimorada educação.
Usava de ordinário fato preto a que dava realce uma esplêndida camélia,
artisticamente colocada na boutonniere.
Elegíaco por condição nada havia que o satisfizesse. Um vácuo imenso
lhe torturava a existência. Filho do tédio e vivendo para o tédio o seu
espírito, agrilhoado por uma nostalgia sem limites, experimentava de
contínuo um mal-estar insuportável, atroz, corrosivo, e porventura uma
doença impossível de definir-se.
A sua compleição delicada, e consumida pelos vinhos, agitava-se
alternadamente entre dois mundos infinitos e contradictorios. Amava e
não amava, queria e não queria, pensava e não pensava.
Alto, magro, nervoso tudo o impressionava com uma fatalidade
irresistível. O mundo era-lhe um phantasma sombrio, chimerico, cuja
sombra ele amaldiçoava, a todas as horas, no café, na rua, no bordel,
na sociedade enfim.
Mulheres havia que sonhavam com o seu bigode louro, a sua cabelleira
phantastica, e os seus sorrisos provocadores, ingênuos e ligeiramente
ironicos.
Ele, porém, detestava as mulheres em espírito, aproveitando-lhes o
corpo e a carne, como um mero passa-tempo social.
Só uma vez amou, e, como Christo, doidamente, loucamente, profundamente.
Então foi ditoso muito ditoso.