Grito ao Vento que passa a galopar na treva:
Escuta a minha dor! rouco, de braços hirtos,
A ver se ele ouve e ao longe esta Saudade leva!
"Meus queixumes, oh Vento, hão de em anciãs ouvir-nos
Esses campos que amei, vinhas, rios suaves,
Pomares, laranjais, bosques de louro e mirtos,
Onde, inverno e verão, nunca emudecem aves,
Onde nunca se extingue o murmurar das fontes,
Todo o ano a correr entre rosas e agaves...
Vento largo, que vens de ignotos horizontes!
No teu rugido absorve o meu grito pungente!
Vale repeti-lo ao mar e aos pinheirais dos montes,
Para tornar mais triste o seu gemer plangente,
Mais expressivo e humano o seu lamento amargo,
Como um eco, a expirar, desta noite inclemente!
Leva contigo, oh Vento, este gemido ao largo,
A ver se nele alguém a minha voz conhece,
Nessas terras de luz, sem hiemal letargo,
Onde o Estio a cantar longos meses se esquece,
E onde o Sol não é só lâmpada que ilumina,
Mas o Agne criador que tudo anima e aquece!
Debalde, sobre mim, na sua graça divina,
Almas puras, abrindo a plumagem das asas,
Com o ardor que nenhuma angústia contamina,
Espalham no meu lar como um calor de brasas...
Para fundir de todo esta geada tão densa,
Só tu, meu claro Sol, que até inverno abrasas!
Vento frio, que vais da minha noite imensa,
Tenebroso e a rugir! - leva a minha Saudade,
Como uma estrela a arder, na tua asa suspensa!
Quando essa luz passar, com que mágoa não há de
Refleti-la o meu rio, e acariciá-la, vendo
Que vai dos olhos meus a tênue claridade!
Mas então, Rio amado, as tuas águas descendo
Nessa luz refletida, a tremer como um luar,
Todo o passado irei nas tuas margens revendo,
E o coração talvez se esqueça de chorar,
Como nauta que a voz de Loreley enleva,
E para a morte vai nesse enlevo a cantar...
Vento surdo, que vais a galopar na treva!
Para um momento! Escuta a minha voz clamante
Vê como sofro, e ao longe esta Saudade leva!"
Mas o Vento não ouve o meu grito alarmante!
Ai de mim, que sou eu?! pobre louco exilado,
De toda a parte vendo o meu país distante,
Como se lá tivesse os meus olhos deixado!
Escuta a minha dor! rouco, de braços hirtos,
A ver se ele ouve e ao longe esta Saudade leva!
"Meus queixumes, oh Vento, hão de em anciãs ouvir-nos
Esses campos que amei, vinhas, rios suaves,
Pomares, laranjais, bosques de louro e mirtos,
Onde, inverno e verão, nunca emudecem aves,
Onde nunca se extingue o murmurar das fontes,
Todo o ano a correr entre rosas e agaves...
Vento largo, que vens de ignotos horizontes!
No teu rugido absorve o meu grito pungente!
Vale repeti-lo ao mar e aos pinheirais dos montes,
Para tornar mais triste o seu gemer plangente,
Mais expressivo e humano o seu lamento amargo,
Como um eco, a expirar, desta noite inclemente!
Leva contigo, oh Vento, este gemido ao largo,
A ver se nele alguém a minha voz conhece,
Nessas terras de luz, sem hiemal letargo,
Onde o Estio a cantar longos meses se esquece,
E onde o Sol não é só lâmpada que ilumina,
Mas o Agne criador que tudo anima e aquece!
Debalde, sobre mim, na sua graça divina,
Almas puras, abrindo a plumagem das asas,
Com o ardor que nenhuma angústia contamina,
Espalham no meu lar como um calor de brasas...
Para fundir de todo esta geada tão densa,
Só tu, meu claro Sol, que até inverno abrasas!
Vento frio, que vais da minha noite imensa,
Tenebroso e a rugir! - leva a minha Saudade,
Como uma estrela a arder, na tua asa suspensa!
Quando essa luz passar, com que mágoa não há de
Refleti-la o meu rio, e acariciá-la, vendo
Que vai dos olhos meus a tênue claridade!
Mas então, Rio amado, as tuas águas descendo
Nessa luz refletida, a tremer como um luar,
Todo o passado irei nas tuas margens revendo,
E o coração talvez se esqueça de chorar,
Como nauta que a voz de Loreley enleva,
E para a morte vai nesse enlevo a cantar...
Vento surdo, que vais a galopar na treva!
Para um momento! Escuta a minha voz clamante
Vê como sofro, e ao longe esta Saudade leva!"
Mas o Vento não ouve o meu grito alarmante!
Ai de mim, que sou eu?! pobre louco exilado,
De toda a parte vendo o meu país distante,
Como se lá tivesse os meus olhos deixado!