Comprehende-se a importância d'esta lei.
A sensibilidade - tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis - é a fonte de toda a criação civilizada.
Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio em que está a grandeza e a força da obra resultante.
Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio atual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nasceça, função do temperamento que a hereditariedade lhe fixou.
A sensibilidade, portanto, progride por gerações.
As criações da civilização, que constituem o "meio" da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes - e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado - progridem não por obra de gerações, mas pela interação e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora lentamente, a princípio, em breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.
Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos - uma falência portanto.
Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desaptação.
A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade.
Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto.
Cresceu a desadaptação vertiginosamente desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa para atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade.
Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.
Assim surge a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos portanto, um dilema: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural e instintiva faliu.
Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo lugar,
A Necessidade da Adaptação Artificial
O que é a adaptação artificial?
É um ato de cirurgia sociológica.
É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.
A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadapta.
Não havemos de pensar em curá-la.
Não há curas sociais.
Há de se pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver.
Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva mutilação.
O que é preciso eliminar do psicológico contemporâneo?
Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito - isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por três razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reação contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagônicos à atual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam; (c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não há de ferir tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psiquíco
Qual é a última aquisiçao fixa do espírito humano geral?
Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa cvilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.
A adaptação artificial será portanto espontaneamente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua emergência no cristianismo.
A sensibilidade - tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis - é a fonte de toda a criação civilizada.
Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio em que está a grandeza e a força da obra resultante.
Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio atual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nasceça, função do temperamento que a hereditariedade lhe fixou.
A sensibilidade, portanto, progride por gerações.
As criações da civilização, que constituem o "meio" da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes - e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado - progridem não por obra de gerações, mas pela interação e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora lentamente, a princípio, em breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.
Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos - uma falência portanto.
Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desaptação.
A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade.
Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto.
Cresceu a desadaptação vertiginosamente desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa para atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade.
Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.
Assim surge a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos portanto, um dilema: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural e instintiva faliu.
Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo lugar,
A Necessidade da Adaptação Artificial
O que é a adaptação artificial?
É um ato de cirurgia sociológica.
É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.
A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadapta.
Não havemos de pensar em curá-la.
Não há curas sociais.
Há de se pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver.
Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva mutilação.
O que é preciso eliminar do psicológico contemporâneo?
Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito - isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por três razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reação contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagônicos à atual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam; (c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não há de ferir tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psiquíco
Qual é a última aquisiçao fixa do espírito humano geral?
Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa cvilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.
A adaptação artificial será portanto espontaneamente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua emergência no cristianismo.